terça-feira, 1 de dezembro de 2009

A 100º Postagem.

Quando ele nasceu o primeiro presente que ganhou foi um poema.

Vou poupá-los desse meu arroubo de pai.

Mas a intenção daquele meu desvario literário era dizer que o protegeria para sempre.

E que, na borrasca ou no estio ou na abundância, estaria ali do seu lado – atento e amoroso.

Os versos devem estar hoje em alguma gaveta empoeirada. Mas foram um sinal do que vinha pela frente.

O tempo, como sempre, voou. E, à maneira de todo pai que se preze, passei a imaginar minha melhor criação de muitas maneiras.

Um engenheiro, advogado ou médico para ser o meu contraponto.

Um “chef” de cozinha - quando resolveu, no início da juventude, fazer estágio num restaurante – para ser o meu gourmet.

Ou quem sabe um aviador, como sonhava o avô, para ser o meu Santos Dumont.

Ah, quantas angústias e delicias povoam as ideias de um pai ao ver seu filho crescer.

E como são poéticas as cabeças paternas. Imaginam coisas do arco da velha, veleidades que até Deus duvida.

Não fugi à regra.

Para o bem e para o mal, sou pai dramático, passional, exagerado.

Todos os meus filhos que o digam.

Amo-os com a dedicação de um estivador e a delicadeza de um dente-de-leão ao vento.

O que não senti ao ver que o meu rebento, que poderia ser o médico ou o engenheiro que nunca fui, seguiria a mesma trilha pela qual enveredei?

Um amante das palavras como eu!

Medo, quanto medo.

Confesso que foi a minha primeira reação.

Será que o meu (sempre) pequeno garoto estaria preparado para entregar sua vida a esses caprichosos sinais gráficos?

A essas convenções gramaticais que, por tantas vezes, convencionaram que eu deveria me ajoelhar a seus pés e ficar cismando indefinidamente em busca de significado?

Pensei logo, co mo naquele meu primeiro poema ao filho, em protegê-lo de tal sorte.

Mas era tarde. Não se protege um homem de seu destino.

Fui então, como a velha árvore, deixando apenas que a minha sombra recaísse sobre a do meu descendente, broto que despontava cheio de vivacidade sob o Sol.

E assim foi.

Essas 99 postagens dele, revelam algo muito importante para nossas vidas: sinto que, feito eu, ele nunca mais vai abandonar essa paixão.

Inexorável como parece ser, meu filho, só lhe resta fazer o seu melhor.

E que as Musas sempre sorriam para você e sua lira.


Carlos Castelo.

Carlos Castelo é jornalista, publicitário, humoristas e nas horas vagas meu pai.

5 comentários:

  1. Quem faz 100 faz um milhão. Vamos em frente na nossa lida com as misteriosas e fascinantes palavras. Parabéns e beijão do pai coruja.

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  2. perfeito!!! que coisa mais linda, "filho de peixe, peixinho é!" é o que dizem...

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  3. Nossa que lindo, de pai pra filho.

    Parabéns Poetinha, vc herdou a maior riqueza que poderia herdar... um amante das palavras.

    Sabe sentir,sentir, amar... e amar!

    Isso nao tem preço!

    Fantastico... filho de peixe, peixinho é !

    Que emoção!! DE 100 ao infinito!

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  4. Simplesmente, maravilhoso...
    O pai é o maior herói de todos os filhos.

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