terça-feira, 1 de setembro de 2009

Envelhecimento em 1° Pessoa.

Num longo gole, a verdade apareceu no fundo do meu copo. Clara e transparente. Juntamente o meu reflexo disléxico, pessoas e pensamentos embriagados.

Bebo e não cedo. Por isso.
Recosto sobre o balcão e digo: “um Jack Daniels, sem gelo, por favor.”

O garçom que já me conhece de outras noites boêmias, me atende de bate e pronto. Delicio a beleza saída dessas garrafas quadrangulares de rótulo negro há décadas, com seu sabor e cor amadeirados que gotejam lentamente o alto céu da minha boca. Sempre foi e será marcante, um verdadeiro ritual. Ficar bêbado também é um ritual, sim!

Pelos cantos e nunca pelo centro, vou criando raízes nesse velho pub, regadas ao bom e velho bourbon. Aqui se escuta piadas e xingamentos pelos cantos, pessoas rindo e brigando, tudo isso ao mesmo tempo. Mais que merda! É complicado para um velho bêbado, como eu.

Antigamente esse bar só tinha uma junkebox, dois ou três pinguços e nosso velho amigo garçom. Era tão tranqüilo. Nós bebíamos e falávamos sobre mulheres e futebol durante horas, algumas vezes até raiar o dia no horizonte. Hoje o tempo já me corrói, não sou mais aquele menino cheio de vida e sonhos que saiu de casa cedo para trabalhar na construção da cidade de São Paulo. As mãos cultivam calos, o corpo já dorme e acorda cansado, o bar é única distração. Pelo menos é melhor que o asilo.

Diferente dos uísques, ficamos piores quando envelhecemos, pelo menos aos mais jovens. Nunca nenhum deles conversou comigo, e os que eu tento simpaticamente se mudam de lugar ou fingem não escutar. Tudo bem, as minhas experiências não valem um minuto perdido, porém eu ainda procuro um sentido.... E se deus quiser, vou encontrar!

3 comentários:

  1. Muito belo e sincero. Ótimo retrato da boêmia em si. Quando somos jovens aprendemos, quando começamos a ficar velhos, entendemos...
    Helena

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  2. pelo menos aos mais jovens... Minhas experiencias valem um minuto perdido, porém eu ainda procuro um sentido... qual sera o meu? as palavras seria uma resposta a esta pergunta, se não fosse mais forte a vontade de voar.

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  3. Ao contrário dos uísques, pioramos. É fato. Mas acabamos aprendendo, coisa que os uísques ainda não são capazes de fazer. Bjao.

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