terça-feira, 6 de setembro de 2011

Passo a Passo.

Dentro de mim: uma roda gigante desgovernada. Fora de mim: olheiras desenhadas por lágrimas. O que me trás aqui? Qual é meu papel nesta anarquia da existência? Eu nasci ou fui feito? Porque aqui e não em outro cenário? Estou entregue e nada faço, por quê? Meus gostos, hábitos e gestos ainda continuam sem graça, a cada dia me torno mais alienado e convencional. Isso é fato. Será culpa do mundo inescrupuloso e sujo? Ou estou colhendo o que eu mesmo plantei?

Os sonhos estão morrendo, a realidade padecendo. Acho que vou para o inferno, tenho medo. Nunca fui o tipo polido pela integridade, pelo contrário, sou aquele especialista em tirar as pessoas do sério, que fala quando não é chamado, campeão invicto em brincar devagar e sorridente com a própria existência.

Fechar os olhos é uma viagem astral, fácil render-se a primavera colorida e depressiva da Granja Viana. Abro a janela, vejo todo o verde que se pode enxergar: penso, releio, ando em passo ritmado, por entre as portas só piso com o pé direito. Tenho manias e desvios mentais desde meus 9 anos, acho que daí vem toda a minha facilidade de isolamento e contradição.

Minha cabeça tem um ritmo vezes acelerado, vezes lento. Hoje ela é um misto dos dois. Por isso revolvi caminhar sobre as ruas esburacadas e mal asfaltadas do bairro. O sol está tímido, mas insiste em mostrar sua luz, parece comigo: um fraco corajoso. E, ás vezes, decidido.

“Doença, doença, doença...”, “você é fraco, fraco, fraco...”, “sim, sim, sim...”, “não, não, não...”, “morra, morra, morra”, “calma, calma, calma”, “fraco, fraco, fraco...” “PRO INFERNO!”

A mente não se aquieta. Seria melhor deixá-la de lado? Mas como? Só quero o melhor a todos a minha volta, eu JURO DO FUNDO DA PORRA DO MEU ESTOMAGO INFLAMADO. JURO E CHORO...E DÓI!

De passo em passo vejo que o mundo sofre de cegueira optativa, o homem é um escravo de si mesmo, incapaz de ver o futuro baseado na ciência, mas que mesmo assim busca prevê-lo através de métodos espirituais. Cansei de tentar em entender, deixo levar...

Vou mais longe. Penso em toda dor que causei, nas merdas insanas que falei, nos pedaços simbólicos que arranquei. Se arrependimento matasse, não adiantaria nem a esse que vos escreve ter mais de 7 vidas.

A caminhada para por um segundo. Vejo o paradeiro da minha infância. Sob o olhar do céu, iluminado pelo sol, agradeço por estar ali planejando o inesperado, me reencontrando com meu passado, tendo de volta meu riso. Nem que por alguns segundos, os mais valiosos.

Antes de entrar, em mim surge uma timidez, mais conhecida como medo do inesperado. Alguns passos descalços sobre a grama, não lembro se entrei com o direito ou esquerdo, a terra fria penetrava a sola dos meus pés, a cabeça estava pronta, o corpo pedia um momento de inovação.

Paro sobre o lugar onde costumará refletir. Uma trilha bem ao fundo de uma mata pouco explorada, lá uma ponte de madeira fina ajuda na passagem sobre um riozinho que ainda vive com o mesmo barulho doce e marcante. Novamente fechos os olhos, e como um autor de ficção, me sinto o rei do meu pequeno mundo.

5 comentários:

  1. Fodido!
    Arrepiou!

    Abs
    Thiago

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  2. Imensidão a se perder no horizonte.....Ser o rei de nosso pequeno mundo é tudo! Pra mim e para muitos outros, que desse imensidão compartilham suas magníficas existencias...Uma luz sempre acesa.....sentinela no farol....
    Falamos e ouvimos....

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  3. Eu colocaria o título "Conteúdos" a esse texto.

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  4. Mas ta ótimo o título que tá. Sem tirar nem por. O texto é esplêndido; de certa forma me encontrei ali.

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