Quando ele nasceu o primeiro presente que ganhou foi um poema.
Vou poupá-los desse meu arroubo de pai.
Mas a intenção daquele meu desvario literário era dizer que o protegeria para sempre.
E que, na borrasca ou no estio ou na abundância, estaria ali do seu lado – atento e amoroso.
Os versos devem estar hoje em alguma gaveta empoeirada. Mas foram um sinal do que vinha pela frente.
O tempo, como sempre, voou. E, à maneira de todo pai que se preze, passei a imaginar minha melhor criação de muitas maneiras.
Um engenheiro, advogado ou médico para ser o meu contraponto.
Um “chef” de cozinha - quando resolveu, no início da juventude, fazer estágio num restaurante – para ser o meu gourmet.
Ou quem sabe um aviador, como sonhava o avô, para ser o meu Santos Dumont.
Ah, quantas angústias e delicias povoam as ideias de um pai ao ver seu filho crescer.
E como são poéticas as cabeças paternas. Imaginam coisas do arco da velha, veleidades que até Deus duvida.
Não fugi à regra.
Para o bem e para o mal, sou pai dramático, passional, exagerado.
Todos os meus filhos que o digam.
Amo-os com a dedicação de um estivador e a delicadeza de um dente-de-leão ao vento.
O que não senti ao ver que o meu rebento, que poderia ser o médico ou o engenheiro que nunca fui, seguiria a mesma trilha pela qual enveredei?
Um amante das palavras como eu!
Medo, quanto medo.
Confesso que foi a minha primeira reação.
Será que o meu (sempre) pequeno garoto estaria preparado para entregar sua vida a esses caprichosos sinais gráficos?
A essas convenções gramaticais que, por tantas vezes, convencionaram que eu deveria me ajoelhar a seus pés e ficar cismando indefinidamente em busca de significado?
Pensei logo, co mo naquele meu primeiro poema ao filho, em protegê-lo de tal sorte.
Mas era tarde. Não se protege um homem de seu destino.
Fui então, como a velha árvore, deixando apenas que a minha sombra recaísse sobre a do meu descendente, broto que despontava cheio de vivacidade sob o Sol.
E assim foi.
Essas 99 postagens dele, revelam algo muito importante para nossas vidas: sinto que, feito eu, ele nunca mais vai abandonar essa paixão.
Inexorável como parece ser, meu filho, só lhe resta fazer o seu melhor.
E que as Musas sempre sorriam para você e sua lira.
Carlos Castelo.
Carlos Castelo é jornalista, publicitário, humoristas e nas horas vagas meu pai.
terça-feira, 1 de dezembro de 2009
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Tá explicado!
ResponderExcluirQuem faz 100 faz um milhão. Vamos em frente na nossa lida com as misteriosas e fascinantes palavras. Parabéns e beijão do pai coruja.
ResponderExcluirperfeito!!! que coisa mais linda, "filho de peixe, peixinho é!" é o que dizem...
ResponderExcluirNossa que lindo, de pai pra filho.
ResponderExcluirParabéns Poetinha, vc herdou a maior riqueza que poderia herdar... um amante das palavras.
Sabe sentir,sentir, amar... e amar!
Isso nao tem preço!
Fantastico... filho de peixe, peixinho é !
Que emoção!! DE 100 ao infinito!
Simplesmente, maravilhoso...
ResponderExcluirO pai é o maior herói de todos os filhos.